Remédio criado a partir de fungo consegue matar câncer de fome
Molécula batizada de lodamina destruiu tumores de mama, próstata, útero e cérebro.Substância age destruindo vasos sangüíneos que alimentam massa tumoral
Um novo remédio, criado a partir de um fungo que contaminou acidentalmente um experimento, pode se mostrar eficaz contra um espectro amplo de tumores, afirmam cientistas. Batizada de lodamina, a droga foi aperfeiçoada em um dos últimos trabalhos de Judah Folkman, um dos maiores especialistas em câncer do mundo, que morreu em janeiro passado. Folkman foi o pioneiro da chamada antiangiogênese -- uma estratégia que consiste em matar os tumores de fome, acabando com os vasos sangüíneos que os alimentam.
A lodamina é um inibidor de angiogênese (formação de vasos sangüíneos) que a equipe de Folkman está tentando melhorar há 20 anos. Num artigo na revista científica "Nature Biotechnology", os colegas do falecido pesquisador dizem ter criado uma formulação que pode ser tomada como uma pílula, sem efeitos colaterais. A descoberta já está licenciada para uma empresa de biotecnologia dos EUA.
Testes em camundongos mostraram que o medicamento funciona contra tumores de mama, neuroblastomas, cânceres de ovário, de próstata, de útero e tumores cerebrais conhecidos como glioblastomas. Segundo Ofra Benny e seus colegas do Hospital Pediátrico de Boston e da Escola Médica de Harvard, a droga deteve os chamados tumores primários (os primeiros a aparecer num dado organismo) e também impediu que a doença se espalhasse para outros focos no corpo.
"Ao ser administrada oralmente, ela atinge primeiro o fígado, o que a torna especialmente eficaz na prevenção de metástases [formas secundárias do tumor] hepáticas em camundongos", escrevem os pesquisadores em seu artigo. "As metástases no fígado são muito comuns em muitos tipos de tumor e costumam estar associadas a um prognóstico ruim e a uma baixa taxa de sobrevivência", acrescentaram eles.
"Quase limpo"
"Quando examinei os fígados dos camundongos, o grupo tratado estava quase limpo", disse Benny em comunicado oficial. "No grupo controle, era impossível reconhecer os fígados -- eles tinham virado uma massa de tumores."
A droga foi isolada originalmente de um fungo chamado Aspergillus fumigatus fresenius. Donald Ingber, da Universidade Harvard, descobriu o fungo por acidente ao tentar cultivar células endoteliais, que revestem a parede dos vasos sangüíneos. O bolor afetou as células de modo a impedir o crescimento de pequenos vasos conhecidos como capilares. Os pesquisadores logo perceberam o potencial antiangiogênico da substância por trás do fenômeno, mas a molécula tinha efeitos colaterais, causando depressão e tonturas. Além disso, não permanecia muito tempo no organismo.Benny e seus colegas resolveram o problema com a ajuda da nanotecnologia, que permite manipular com precisão as características de uma molécula. O grupo "colou" dois grupos de átomos na substância original, protegendo-a dos ácidos do estômago. Com isso, a droga alterada conseguiu chegar diretamente às células tumorais, destruindo-as sem efeitos colaterais aparentes. Os pesquisadores crêem que a lodamina poderá ser útil contra outras doenças ligadas ao crescimento anormal dos vasos sangüíneos, como a degeneração macular ligada à idade, problema de visão que pode levar à cegueira.
Fonte: Globo.com
Um comentário:
Muito bom este blog.......bjcas
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